terça-feira, 27 de setembro de 2011

Revelação do óbvio

A menina olhou para o pai e a mãe e entendeu:
Era o fruto do amor deles.

(Setembro de 2011)

sábado, 24 de setembro de 2011

Aforismo 2

Toda dor, se não for na carne, é de amor.

(Setembro de 2011)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Saudade


De repente uma lembrança: os olhos que me cobrem como as águas do mar não são apenas os dele, são também os do primeiro homem que me olhou e me amou e me carregou em seus braços e me acompanhou enquanto pôde, mas que muito cedo teve que partir e me deixar sozinha, sem o mar, neste mundo tão grande.

E é por isso que esta saudade não tem remédio.

(Setembro de 2011)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O mais bonito

O homem mais bonito que já conheci tem olhos que, quando me olham, são como o mar sobre mim.

Sinto saudade do mar.

(Setembro de 2011)

sábado, 17 de setembro de 2011

Aforismo 1

A fidelidade ao próprio desejo é a única que vale a pena.

(Setembro de 2011)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Assalto

Às vezes a vida me assalta com uma intensidade tão grande que quase não suporto. Parece-me então que só uma borboleta teria a delicadeza necessária para não romper o fio do lirismo insinuado.
Eu, atarantada, me sacudo toda sem querer, e o perco.

Mas sossego tranquila.
E espero a nova chance.

(Setembro de 2011)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Perfume

A menina tocou, de leve, o regaço da mãe.
Era quente. Era perfumado.
E o calor perfumado se derramou
como o leite
por entre as entranhas da menina
que agora sabia:
era bom deixar sair,
como uma má presença que se exorciza,
cada grão de rancor
que amarga a vida e descolore o mundo.
E o calor perfumado fez reviver na menina
o amor antigo e mais doído
que vinha carregando, escondido,
desde antes de ser trazida ao mundo.

A menina então, se olhou no espelho, sorriu,
e correu pela estrada recém desbravada
pela dor.

(Setembro de 2011)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O descanso

O cheiro de terra úmida se insinua, a felicidade se esgueira por entre as áridas escarpas do caminho que corre no alto da montanha. O céu, muito próximo, consola de azul e branco o vento gelado que não para. O calor, por dentro do corpo que caminha sem queixas, reconhece de longe o sabor do que se insinua, do se esgueira, do que força entrada e quer transformar as escarpas em terra macia e a aridez em descanso.
E quando puder descansar, o corpo que caminhou sem queixas tocará a terra como a um amante. E aspirará seu cheiro tenro e, ébrio, alcançará o ponto mais alto da montanha. E acenará ao pássaro que voa longe, muito longe, e no aceno, breve, estarão juntos, como sempre.

(Agosto de 2011)