quarta-feira, 29 de maio de 2013

Contemplação

No Teu rosto de olhos límpidos
vejo o mundo todo.
Vejo águas mansas e
no fundo
o mar bravio.
Vejo o Sol que cega
e a Lua que amansa.
Vejo a mim mesma
correndo apressada à procura de mim -
parando atônita ao encontro de Ti.
Olho Tua face e caio.
E tudo deságua nos Teus olhos.
E nado nua nestas águas.
Tu és para mim, então,
o onde quero estar,
o limite que não quero ultrapassar,
o fio que me delimita
sem me impedir de nadar.
Onde sou, a um só tempo,
livre e limitada.
Onde me entrego,
mas não me perco.

(Maio de 2013)

Imagens (I)

Na beira do Rio,
vendo de longe os peixes rompendo as redes,
fixei-me.
O cheiro do peixe semi-vivo me penetrou -
e eu me fiz peixe
e eu me fiz terra.
Quando Ele passou por mim, seguido pelos outros,
não pude ir junto.
Fixada na terra,
adubada pelo cheiro do peixe,
transfigurei-me em árvore,
e eu era alta e cheia.
Quando mais tarde Ele voltou,
se recostou à minha sombra.
Com tremor na alma, eu disse:
Quero ser Teu conforto.
Ele sorriu em silêncio e se deitou em minhas raízes expostas.
E eu servia ao Seu sono,
e eu era perene em servir.

(Maio de 2013)

Nono cântico

Mergulho no abismo de mim.
Deságuo lá onde não sou.
Onde Ele me olha e
me transfigura naquilo que sou.

(Maio de 2013)

Oitavo cântico

Meu corpo arde.
Minha pele sente o Teu calor.
Minha língua é penetrada pelo Teu sabor.
Corpo e poros -
tudo aberto,
toda aberta.
Úmida à espera do Teu halo.
Trêmula,
ansiosa por Teu verbo.
Toda Tua,
toda nua,
toda.

(Abril de 2013)