segunda-feira, 3 de março de 2014

Diário de uma mulher não moderna IV

De repente preciso dessa coisa simples que é contar de mim: me sinto às vezes tão alegre, tão cheia de uma coisa que não entendo, uma coisa com cheiro de emoção, emoção tão grande que quase me sai pela boca, e que me assalta por dentro parecendo querer mostrar uma iluminação ou coisa assim. A sensação quase nítida de que a qualquer momento um clarão vai se abrir diante de mim e vou enxergar tudo com a compreensão fina de quem apenas recebe, e sorri. Mas esse formigamento de repente me deixa e sou só eu outra vez. Mulher faminta, gente que quer o mundo. Comer pão de queijo, beijar boca, rezar sem medo, sorrir à toa. Vai ver que o nome do formigamento é deus.

(Março de 2014)