sábado, 28 de agosto de 2010

Quase

Outro dia vi uma coisa bonita, mas não era nada, quase nada, só um quase sorriso de criança. Criança bem pequena, dessas que ainda nem falam, mas que já andam. Sentada no colo de uma outra criança, que talvez já pense que não é mais criança, tão grande e cheia de ideias que já é, sentada no colo dessa criança grande ela me olhava e quase sorria. E eu me deleitava e sorria inteira. E o homem ao meu lado se intrigava. E a criança grande ria junto, macia. E nós três ríamos e a menininha não ria, só quase ria.
E a beleza disso tudo é tão pequenina. Mas é também tão vasta, meu deus, que é quase o bastante para uma vida inteira.

(Agosto de 2010)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A realidade humana é como a de um ser sem lugar, é saber que se é, ao mesmo tempo, um nada na poeira do universo, e uma infinitude na interioridade da própria vida.
É por isso que durmo e acordo, simples, como um bicho qualquer, e descanso sem entendimento.
Mas desejo.

(Agosto de 2010)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Águas

Vem de longe uma alegria sorrateira que me comprime a garganta.
O interior do meu corpo é recheado de cores, sombras e calores. Quando sinto medo, chamo de frio. Quando sinto desejo, é fogo, calor que trepida. A tristeza é sombra e aridez, vento seco que corta tudo por dentro. Mas essa alegria de hoje é só um calor manso, como mergulhar em águas quentes. Gostoso e sufocante.
Nado pelas águas mornas, e as águas de dentro se misturam às de fora.
Lancei minha alegria para fora, e assim invadi o mundo. Ou foi o mundo que me invadiu com sua alegria mansa...

(Agosto de 2010)

domingo, 1 de agosto de 2010

Houve um tempo em que morava uma bomba em mim. Temi sua explosão medonha, imaginei medusas, pernas tenebrosas, ruínas.
Quando veio, veio lenta, mais parecendo desabrochar.
Era monstro não, era desejo.

(Meados dos anos 90)