quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Não amor

Ele me olha
e não há amor.
O peito sangra
e o sangue
corta a pele ressecada.
Uma só ferida
percorre o corpo.
Me limpo
me enfeito
me curo
me minto:
sugo seu olhar
e ainda assim
- o mesmo -
e eu grito
peço
rasgada
em dor:
e não há amor.
E assim nem creio
que possa haver
tal Amor perene
que me salve
de mim.
Mas ainda quero.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Língua e letra

A letra, que, afinal, é minha
treme sob o jugo da pulsação
infinita que me assalta
e devora:
a língua de Deus não tem pena de mim.
Bagunça minhas entranhas
como o cachorro que lambe a cadela no cio.
Mas não sacia.
A fonte do desejo não seca
e eu sigo ardendo
de saudade de Ti,
Deus que seduz.