domingo, 28 de junho de 2015

Fome

A caminhada árdua
me levou ao ponto mais alto.
De lá vi cumes maiores que o meu
vi montanhas
várzeas e platôs,
vi a memória se perdendo como luzes em baixa.
E de lá me vi.
Menina.
Uma jardineira e uma fuga em mente.
Um corpo cheio, uma alma repleta.
Me vi menina.
E nos olhos da menina a esperança.
Fome intensa de vida a mais.
Fome de Ti.

Ah, menina, quanta coisa a te contar.
Quantos caminhos de idas e voltas
choros e risadas
beijos e desencontros.
Quanta cor e dor
e sempre intensa, a fome.
Na travessia do rio
no gozo
no pranto
no encontro do mar,
menina.
Quanta vida a te contar.
E toda, toda ela,
feita só para ti
para honrar teus olhos amedrontados
feito bicho acuado.
Foi só por tua causa, menina,
que segui sempre em frente
depois de cada queda
e de cada pedra.
Para honrar teus olhos
de espanto e dor.
De amor.

(Maio de 2015)

Nascer

Folhas todas esparramadas
secas, verdes, inteiras, quebradas,
as folhas todas de mim esparramadas.
E eu, cérebro disforme,
desencontrada, caída no monte de folhas.
Brinco. A criança se joga no monte.
Brinco. E não sei.
Não sei de mim.
Não sei de cada folha.
Mas uma cicatriz é rasgada a cada folha quebrada.
E dentro da ferida a chance
a chance única, a chance renovada.
É da ferida reaberta que se pode nascer.
E é assim, sem saber e na dor
que busco Teu sopro
e nele me entrego.

(Junho de 2015)