"Ninguém põe vinho novo em odres velhos." (Lc, 5, 37)
Ela dizia:
seja boazinha
reze para não faltar o pão
reze para o dinheiro aumentar
olha seu pai, não segue com ele
seja boazinha
não seja prepotente
não seja amiga de gente feia
não namore rapaz feio
não ame um qualquer
faça o que é certo
seja boazinha
não coloque os cotovelos na mesa
não fale alto
seja boazinha
você é uma princesa.
Eu me remoía e
a palavra dela corria dentro de mim como ratazana.
Buscava outras palavras:
sê sincera
observa o sentimento
observa o sentimento do outro
ama
sê amiga
perdoa
justifica o que for justificável
defenda o que for defensável
sê sincera
vê de perto a verdade
mexe na verdade do outro
explicita a beleza da verdade
sê sincera
descobre o que é justo
revela a mentira.
Eu me culpava entre os odres velhos e o vinho novo.
Agora sei: me banho nas palavras novas
que se aninham no meio do meu peito
como se fora um odre novo.
(Junho de 2013)
domingo, 2 de junho de 2013
Tarefa
Desde sempre,
ela não me viu.
Esperou de mim que fosse
o que eu não era,
e nunca viu o que eu era.
Esperou de mim o irrealizável,
a esperança última de quem vive:
ser o que não é,
fugir de si,
ser para os olhos do outro a perfeição que ele espera.
Desde sempre,
me culpei por não ser
o que ela queria.
E mais ainda,
por não ser por inteiro
o que eu era.
Em uma espécie de não-ser,
fui seguindo sangrando.
Diante d'Ele,
ser o que sou -
ai de mim.
(Junho de 2013)
ela não me viu.
Esperou de mim que fosse
o que eu não era,
e nunca viu o que eu era.
Esperou de mim o irrealizável,
a esperança última de quem vive:
ser o que não é,
fugir de si,
ser para os olhos do outro a perfeição que ele espera.
Desde sempre,
me culpei por não ser
o que ela queria.
E mais ainda,
por não ser por inteiro
o que eu era.
Em uma espécie de não-ser,
fui seguindo sangrando.
Diante d'Ele,
ser o que sou -
ai de mim.
(Junho de 2013)
sábado, 1 de junho de 2013
Décimo cântico
"Senhor, se quiseres, poderás limpar-me." (Lc, 5, 12)
Quisera dizer: eu permito.
Mas ainda não podia,
eu, acorrentada em mim,
presa a meus modos próprios
e à desconfiança.
Quero dizer: eu permito.
E quando quero, tremo,
me aflijo, me dano.
Digo: eu permito.
E me entrego à ação
daquele que sabe
o que há para ser curado.
(Maio de 2013)
Quisera dizer: eu permito.
Mas ainda não podia,
eu, acorrentada em mim,
presa a meus modos próprios
e à desconfiança.
Quero dizer: eu permito.
E quando quero, tremo,
me aflijo, me dano.
Digo: eu permito.
E me entrego à ação
daquele que sabe
o que há para ser curado.
(Maio de 2013)
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