terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Condição

Venho d'Ele.
Voltarei a Ele.
Por enquanto, apartada, procuro por Ele.

(Dezembro de 2014)

domingo, 28 de dezembro de 2014

Natal

Há um ponto único que é o centro do mundo e o centro de mim.
Lá está o Teu amor.
Centro sobre centro
meu amor se expande no Teu.
E posso quase entender o tamanho da Tua dor
quando o amor é rechaçado.
Ninguém amou assim.
Ninguém sofreu assim.
Ter a Ti como espelho é aceitar dor e amor.

(Dezembro de 2014)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Entre mim e Ele

Tudo o que sou
emana de Deus.
Nada nasce de mim.
Mas é tanto o que nasce em mim
que me tomo de susto
e quase me engano
esquecida Dele,
iludida de mim.
Até que descanso
acalantada
desencantada de mim.
Toda enredada Nele.

(Novembro de 2014)

domingo, 17 de agosto de 2014

Lágrima

Quando regar não adianta
e a plantinha teima em não crescer,
não adianta ficar brava e tentar forçá-la
à vida que não vem.
Deixa.
Deixa morrer.
E então quem sabe o pranto
há de regar melhor que a água
e ela renasça por si só,
sob o Teu olhar.

(Agosto de 2014)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Riqueza

Colares de pedras brilhantes -
riqueza tirada do interior da pedra
do mundo.
Cores vivas na areia
e na areia o rastro.
Rastro de humana miséria
acusada no olhar molhado
de uma menina qualquer
com as mãos 
pousadas no colo vazio
em que o sonho de uma pedrinha
acalanta a esperança
simples
de se embelezar.
Ela, que já tem nos olhos
a beleza toda
que espelha a Tua dor
desnuda e crua.


(Agosto de 2014)

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Espelho

Eu vi o olho do horror na menina.
Vi a fome
o susto
o medo
a guerra.
O carro blindado que passa ao largo.
O salto que quase pisa.
O rosto que não se abaixa.
O passo apressado.
A sacola de compras.
E eu com a alma toda lançada lá.
E era eu quem não parava
quem tinha pressa
quem não olhava.
E era eu quem sangrava e via.
E eu também que me perdia
lançada no centro
caótico
de mim
e do mundo.
Me entrego.
Sem o Teu amor,
não me oriento.

(Agosto de 2014)

domingo, 27 de julho de 2014

Aurora

O frio pinga nas gotas da chuva
que cai com barulho suave
e me empurra para o dentro de dentro.
No meio do meu peito uma melancoliazinha é pescada
em um lance delicado como a gota que pinga e nem me acorda.
Ela vem raspando em tudo até romper a pele.
Reconheço a cor da tristeza
me banho em suas águas
sorrio de banda
acarinho a pele rompida.
Recosto meu rosto cansado
em Teu corpo
e de repente sei que a tristezinha
virou flor.
Florzinha do campo, mimosa,
mimada,
como aquelas da infância em frente à lagoa salgada
e quente.
Quente como meu peito agora -
quente com calor que envolve a gota gelada.
Quente no regaço do corpo do homem
que transforma a flor da melancolia
em suave espera
pelo romper do sol.

(Julho de 2014)

domingo, 20 de julho de 2014

Companhia

Para o Rogério

Vi a lua nascida
e um sorriso já velho
no corpo cansado da dor.
Na lua nascida uma semente.
Susto novo que me pega e prega.
A lua sorria como o amor novo
que me assalta
e me lança no sonho antigo de menina.
Por trás da lua a igrejinha vazia
e eu entrando em busca de Ti.
Acompanhada.

(Julho de 2014)

domingo, 20 de abril de 2014

A mais bonita

De todas as palavras, a mais bonita é:
liberdade.

Mais do que amor,
alma,
paixão,
lirismo,
gota.

De todas as coisas, a mais bonita é:
liberdade.

Mais do que você, meu amor,
mais do que a jabuticabeira em flor.

Liberdade.

(Abril de 2014)

sábado, 19 de abril de 2014

Desentendida

Uma vez me disseram:
felicidade é encontrar a essência.
Não entendi, era menina demais.
Cresci.
Acho até que envelheci.
Mas não entendo mais.
Felicidade, para mim,
continua sendo só o cheiro molhado da terra,
o sorriso da menina no meu colo,
o formigamento que me invade por dentro,
qualquer coisinha assim.
A felicidade, quando vem,
eu não entendo -
deve ser a tal da essência.

(Abril de 20140

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Um fio só

Desembolei um fio.
Uma música, um tom de voz, uma saudade.
Livros na mesa, cadernos, o toca-discos girando.
O tom de voz que volta.
Eu, menina embalada.
Reembalada agora, a mesma voz.
Um timbre, um gosto, eu me sendo.
O fio delicadamente estendido.
Sou só a menina, sou mais nada.
Me aceita, Deus, me recolhe.
Sorrio besta no Teu colo.
O fio puxado da quase infância
me deixa mole mole.
Feliz feito menina no colo do pai.
O colo é o gosto, é ser uma coisa que tem gosto,
que é pelo gosto que se conhece uma gente.
Eu gosto do Ednardo.

(Abril de 20140)

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Cume

Do cume,
vejo o vale de lágrimas.
Mas repleto de pequenos pontos de luz.
Cada um deles corresponde a uma alegria.
Em cada um deles vejo o reflexo do Teu rosto.

(Abril de 2014)

sábado, 12 de abril de 2014

Minhoquinha

Coloco meu coração diante de Ti -
decifra-me. Preciso saber o nome da dor.
Dor de dente,
dor de corno,
dor de cotovelo.
Dor que dói cansada.
(Saudade de Ti)
Dor remoída e sem jeito,
ajuda-me.
Mas se de dentro da lama vejo sair uma minhoquinha à toa,
já descanso.
E a dor vai embora sem nome,
eu me corroo sem dó,
minhoquinha besta.

(Abril de 2014)

segunda-feira, 3 de março de 2014

Diário de uma mulher não moderna IV

De repente preciso dessa coisa simples que é contar de mim: me sinto às vezes tão alegre, tão cheia de uma coisa que não entendo, uma coisa com cheiro de emoção, emoção tão grande que quase me sai pela boca, e que me assalta por dentro parecendo querer mostrar uma iluminação ou coisa assim. A sensação quase nítida de que a qualquer momento um clarão vai se abrir diante de mim e vou enxergar tudo com a compreensão fina de quem apenas recebe, e sorri. Mas esse formigamento de repente me deixa e sou só eu outra vez. Mulher faminta, gente que quer o mundo. Comer pão de queijo, beijar boca, rezar sem medo, sorrir à toa. Vai ver que o nome do formigamento é deus.

(Março de 2014)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Aforismo 18

O Diabo oferece o poder divino para a conquista do mundo. Deus oferece o mundo para a conquista da felicidade divina.

(Fevereiro de 2014)

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Bobaginha

Minha cachorra se chama Flor.
Meu quintal tem botões de flores.
Minhas flores, meninas, desabrocham.
Êta mundo lindo, meu Deus!

(Fevereiro de 2014)

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Décimo primeiro cântico

Olho em torno -
em volta de tudo,
ao redor de mim e do mundo.
E em tudo vejo amor.
Lá onde há dor, o amor nasce como o mato no cimento.
Lá onde há vazio, o amor penetra como a água na pedra.
E por onde caminhei sozinha, o amor foi meu companheiro.
E onde desabei perdida, o amor me fez levantar.
E quando agora, toda cheia,
olho o mundo todo e só vejo amor,
eu sei: foi a Tua saliva que embebeu o mundo.

(Janeiro de 2014)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Aforismo 17

A felicidade é um vento que bate sem aviso. Quanto mais nos abrimos ao desconhecido, mais frequente é essa visita sagrada.

(Janeiro de 2014)

Excessos

Quando penso em cada pessoa
de que me lembro
de quem gosto
ou a quem apenas vi de relance
sinto um susto no peito
uma alegria boba
um suspiro besta
de quem apenas sabe
que em cada vida
em cada jeito de pisar no mundo
há um jeito de amar.
E então fico toda feita de amor.
E me bate aquela onda
de felicidade sem razão -
o coração inchado quase toca de leve
a mão pesada d'Ele.
A mão que não me larga
que é meu susto
meu pranto
e meu consolo.
Consolada de mim,
de poder tão pouco
saber tão pouco
ver tão pouco,
transbordo toda em excesso de amor.

(Janeiro de 2014)

sábado, 4 de janeiro de 2014

A amada

Meu cachorro faz barulho nas folhas secas que tirei da bananeira
Meu coração trilha incerto por entre o seco e o fresco
No pulso do tempo, sou só assim
Mulher à toa, mas cheia se si,
a Tua amada.

(Janeiro de 2014)

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Círculo mágico

Sonhava com um círculo mágico
círculo de luz e cor no céu.
Não era nada.
Sem círculo e sem luz,
cresceu.
Quase velha
começou a sonhar de novo.
E a esperança virou fé.
O desencanto desabrochou em amor.
E agora já não sonha.
Descansa.

(Janeiro de 2014)

Ô pai

Ô meu Pai
ô paizinho
ô choro sem jeito 
ô lamúria sem fim:
minha mãe não me amou
meu pai me largou
sou desajeitada no amor
afobada na amizade
ansiosa na fome
envergonhada na fé.

Ê menina sem rumo.
Sem nada.

Ê menina esquisita.
Sem jeito nem nada.

Ô meu pai
me salva de mim
me leva daqui
me mostra um jeito
de ser
um jeito qualquer.
Ô paizinho
me tira essa fome
me dá seu remédio
me dá seu amor
me dá.

Ê menina sem prumo
cadê a vergonha?

O pai já te viu
já te deu o mundo
vê se te emenda
menina faminta!

(Janeiro de 2014)