sábado, 12 de outubro de 2013

A roda

Depois de ter sido atravessada pela Tua espada
e ter tido o coração estilhaçado
terei que me haver de novo com o velho amor.
Velho como é velho meu sonho de amor -
como o sorriso do Antônio
o anseio do João
ou o lirismo do Joca.
Velho como é velho meu sonho.
Como quando fui criança e tive a ilusão do círculo de cor no céu.
E depois fui jovem e tive a ilusão do brilho de amor nos olhos.
E fui mulher e tive a ilusão da certeza de amor na palavra.
Velho como agora sou velha e tenho ainda a ilusão
qualquer
em qualquer gota de orvalho
nas flores espumosas da jabuticabeira
no cheiro da terra úmida
na boca esperta da minha cadela
na saudade sem fundo das mãos do meu pai.
Velho como o mundo que se sonha.
E quero ainda a Tua espada
e a cobrirei com o meu amor
entregue a Ti
e seguirei com um segredo
que é o pavor de ser outra vez perfurada.

(Outubro de 2013)

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