quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A menina-vendaval

para Julie

Um dia vi uma menina nascer. Tinha olhos tão firmes, que um dia até me assustaram, e ainda nem tinha parado de mamar. Tinha um corpo tão forte, que se pôs de pé antes da hora. Tinha uma força de vida tão grande, que corria quando fez um ano. E sorria, e quando sorria alegrava o mundo todo. Eu olhava, e ria junto. O pai dela olhava, e ria junto. E eu sentia tanto orgulho que me deixava levar, feliz, pela vida que era dela. Quando andava, corria. Quando falava, tropeçava nas palavras. Quando brincava, era um vendaval. Quando precisava ficar quieta, era uma dificuldade. Nunca ficava sozinha, de tão cheia de amigos que sempre foi. Mas um dia, sozinha no quarto, cheguei preocupada perguntando se estava triste – e ela respondeu: estou pensando. Ah, a menina estava crescendo. Agora, além de pensar, sei que ela também chora sozinha. E nem sempre posso ver. E olho para ela, e lá estão os mesmos olhos, a mesma força, a mesma inquietude. A menina corre para o mundo e não entende tudo o que vê. Mas a menina ama o mundo. E quer correr e alcançar. Corre tanto que deixa coisas pelo caminho. Até me deixa nervosa.
Mas queria só conseguir que ela escutasse: eu continuo toda grande, de tanto orgulho da menina-vendaval que deixa coisas pelo caminho. Porque, por onde ela passa, o mundo todo sorri.

(Novembro de 2010)

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