sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal

Hoje é natal. E o que sinto é um vazio que quer ser preenchido. A bebida e a comida da festa não me atraem. Menos ainda um possível presente. A companhia da família, sim, um leve consolo. Os laços esgarçados se reconstituem levemente. Mas o coração só se aquieta com o amor que sussurra de longe. Amor que não se resume ao que sinto por cada uma das pessoas a quem quero bem. Nem ao amor inteiro que tenho pelas filhas. Nem ao amor de delicadezas que vivo com o homem. Nem ao amor de gratidão que dedico à mãe. Nem ao amor de companhia com que me confortam os irmãos e amigos. E não é uma simples soma disso tudo. É, antes, o que possibilita a existência de cada um desses amores. É o que lhes oferece a substância. Amor que provém, ao mesmo tempo, da distância infinita do cosmos e da interioridade secreta da alma, e que se derrama sobre tudo o que existe.
E é quando pressinto a chegada suave desse amor, que posso dizer: hoje é natal.

(Natal de 2010)

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