segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Meu pai morreu

Meu pai morreu –
o que vai ser de mim
tão menina
tão sem jeito
tão precisada de pai, meu deus?

Meu pai morreu há tantos anos –
o que foi de mim
tão menina
tão sem jeito
tão precisada de amor, meu deus?

Meu pai morreu de novo
junto do meu sonho de não deixar morrer
nada que fosse bonito
como o abraço do meu pai.
Meu pai morreu de novo
junto do meu sonho-paixão de cuidar de tudo o que é belo
e não deixar morrer o que merece viver.
Meu pai morreu de novo
junto do meu sonho-desejo de ser capaz de fazer viver o que está à morte.
Meu pai morreu de novo
junto do nascimento do meu fracasso em salvar da morte o que é belo.

Meu pai morreu finalmente, definitivamente.
E eu agora não salvo, nem mato,
apenas vivo a vida que me cabe.
E quando a emoção quase me faz ser maior do que sou, me lembro:
nem Deus é maior do que Ele.
E fico pequena, e descanso pequena, e deixo morrer e viver.
E choro e rio com o que vive e morre, em mim e fora de mim.

Meu pai morreu.
Ah, meu pai morreu.

(Novembro de 2011)

3 comentários:

  1. Marília, que lindo!
    Fiquei emocionada.
    Um abraço,
    Marta Denise

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  2. Lila,
    Só agora descubro esse texto tão bonito, tão revelador de uma menina/mulher, que encontrou o jeito, que não precisa mais de nada, nem de pai, nem mesmo de amor. Ela é o amor, é o pai.
    Beijo,
    Diana

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